A Poção do Gato Preto

A Poção do Gato Preto

Era uma vez um gato preto chamado Shadow, que vivia numa velha casa assombrada no meio da floresta. Mas Shadow não era um gato comum: ele era, na verdade, um antigo mago chamado Baltazar, que fora transformado em gato por um feitiço há muitos anos. Todas as noites, miava baixinho junto à janela, esperando que alguém corajoso viesse ajudá-lo.

Na noite de Halloween, enquanto as crianças da aldeia faziam “doces ou travessuras” pelas ruas, uma menina chamada Sara decidiu aproximar-se da casa assombrada. Vestida com uma capa roxa e um chapéu de bruxa torto, Sara olhou para a casa e pensou: “Será que alguém vive aqui?”.

Com um suspiro de coragem, caminhou até à porta e bateu três vezes: toc, toc, toc.

“Doces ou travessuras?” — perguntou, com um sorriso tímido.

Mas, em vez de ouvir uma resposta, a porta rangeu e abriu-se sozinha. Lá dentro, a casa estava escura e coberta de pó, mas Sara viu algo a brilhar ao fundo do corredor. Aproximou-se lentamente e, de repente, um gato preto saltou do nada, quase fazendo-a cair!

“Ah! Quem és tu?” — perguntou Sara, tentando não se assustar.

“Sou eu, Shadow!” — disse o gato, com uma voz suave e um olhar suplicante. “Por favor, ajuda-me! Eu sou, na verdade, o mago Baltazar, preso neste corpo de gato. E só tu me podes ajudar a quebrar este feitiço!”

Sara piscou os olhos, confusa. Um gato que fala? E ainda por cima um mago? Mas a curiosidade era mais forte que o medo, e ela decidiu ouvir Shadow.

“Como te posso ajudar?” — perguntou, inclinando-se para olhar o gato nos olhos.

“Precisamos de preparar a Poção de Libertação, mas os ingredientes estão espalhados por esta casa. Cada um é guardado por criaturas mágicas e só podemos misturá-los antes da meia-noite. Se falharmos, terei de esperar mais um ano inteiro!”

Sara endireitou o chapéu e encheu-se de coragem. “Vamos lá! Quais são os ingredientes?”

Shadow abanou a cauda e disse: “Precisamos de três ingredientes: o Pó de Estrela Cadente, a Pena de Corvo Falante e uma Lágrima de Fantasma. Mas cuidado! O Pó de Estrela é guardado por um vampiro muito guloso, a Pena de Corvo está com aranhas gigantes, e a Lágrima... bem, o fantasma pode ser um pouco sensível.”

“Entendido!” — disse Sara, com um sorriso. “Vamos começar!”

O Primeiro Ingrediente: Pó de Estrela Cadente

Sara e Shadow subiram as escadas rangentes até ao sótão. Lá, encontraram um vampiro baixinho e redondo a segurar um pequeno frasco brilhante.

“Olá!” — disse o vampiro, com um sorriso cheio de dentes. “Queres o meu Pó de Estrela? Só se me deres algo doce em troca!”

Sara pensou rapidamente e lembrou-se dos rebuçados que tinha no bolso. Pegou num e ofereceu ao vampiro.

“Hmmm... delicioso!” — disse o vampiro, lambendo os lábios. “Aqui está o frasco!” E, com um piscar de olhos, entregou o primeiro ingrediente.

O Segundo Ingrediente: Pena de Corvo Falante

Depois de descerem do sótão, foram para a biblioteca, onde estantes cheias de livros antigos faziam sombras nas paredes. No meio da sala, um corvo preto estava empoleirado numa vassoura e rodeado por grandes aranhas que teciam teias de seda.

“O que trazes aqui, criança?” — perguntou o corvo, com uma voz grave.

“Precisamos de uma das tuas penas!” — respondeu Sara, corajosamente.

“Só se conseguires fazer rir as minhas aranhas!” — respondeu ele, piscando os olhos. “Elas são muito sérias.”

Sara pensou e, com uma ideia brilhante, começou a fazer cócegas no ar com a sua varinha de brincar. As aranhas olharam curiosas, mas quando Sara começou a fazer caretas engraçadas, uma a uma, começaram a rir e a tremer, até caírem das teias a rebolar!

“Hahahaha! Muito bem!” — riu o corvo. “Aqui está a minha pena!” E lançou-a no ar.

O Terceiro Ingrediente: Lágrima de Fantasma

Por fim, Sara e Shadow desceram até à cave. O ar estava frio e húmido, e sombras dançavam nas paredes. No centro da sala, um pequeno fantasma flutuava, com os olhos tristes e a cabeça baixa.

“O que tens, fantasma?” — perguntou Sara, aproximando-se devagar.

“Estou tão sozinho...” — suspirou o fantasma. “Ninguém vem brincar comigo.”

Sara sentiu o coração apertado. Em vez de pedir a lágrima, pegou na sua lanterna de abóbora e começou a contar uma história engraçada. Falou de ratinhos dançarinos e de abóboras que cantavam. O fantasma começou a sorrir e, antes de se dar conta, riu tanto que uma pequena lágrima escorregou pela sua cara translúcida.

“Obrigado, Sara. Agora já não me sinto tão sozinho!” — disse o fantasma.

“Eu volto para brincar contigo!” — prometeu ela, recolhendo a lágrima num pequeno frasco.

A Poção de Libertação

Com os três ingredientes na mão, Sara e Shadow correram para a cozinha. Shadow saltou para cima da mesa e começou a instruir:

“Primeiro o Pó de Estrela, depois a Pena e, por fim, a Lágrima de Fantasma!”

Sara seguiu as instruções e mexeu a poção até que começou a brilhar com todas as cores do arco-íris. Shadow olhou para o relógio. Faltavam apenas dois minutos para a meia-noite!

“Agora, despeja-a sobre mim!” — disse ele.

Sara, com as mãos a tremer, despejou a poção brilhante sobre o gato. Num instante, Shadow começou a brilhar intensamente e… PUF!

Ali, no lugar do gato preto, estava um homem alto, com uma longa capa e um chapéu pontudo. Era o mago Baltazar!

“Conseguiste, Sara!” — disse ele, sorrindo. “Estou livre!”

Sara sorriu de orelha a orelha. “Conseguimos, Baltazar! E agora, o que vais fazer?”

“Primeiro, vou agradecer-te,” — disse ele, a inclinar-se. “E depois, talvez possamos brincar com o fantasma na cave, como prometeste!”

Sara riu e, juntos, desceram para a cave, onde passaram o resto da noite a brincar e a rir com o pequeno fantasma, que nunca mais se sentiu sozinho.

Lição: Com coragem e bondade, conseguimos ajudar os outros e, muitas vezes, ganhar amigos inesperados. E, acima de tudo, promessas feitas com o coração devem sempre ser cumpridas!

Anterior
Anterior

A Máscara de Abóbora

Próximo
Próximo

O Espantalho Protetor